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A CORUJA, O MASTODONTE, O FAZEDOR DE BURACOS E OUTROS MISTÉRIOS

domingo, 2 de maio de 2010.

Capítulo 12: Frederico, Aeroporto Roissy-Charles-de-Gaulle, Paris, França

Muito ouvia eu falar do grande pássaro de ferro, mas nunca imaginei que se alimentasse de gente, de cães e de corujas. E mais, que depois vomitasse a comida tal como a engolira. Pois, quando reencontrei meu amigo, parecia muito bem disposto, sorridente - fez-me um longo afago nas asas doloridas e na cabeça. Não posso dizer que estivesse tão bem disposto quanto ele: doía-me o corpo inteiro e nunca antes lembrei-me com tanta intensidade do tempo em que sentia o vento frio roçar minhas asas, na superfície gelada do Ártico. Digo mesmo que se eu pudesse, naquele momento, a cabeça atordoada, morto de fome, ia-me de um sopro para minha terra natal e desaparecia no firmamento.

Mas breve fui voltando ao normal, principalmente depois que meu estômago recebeu uma boa porção de alimento. Devorei com prazer o naco de pão que Mathias guardara para mim.

A primeira impressão que tive ao sair da barriga do pássaro voador foi de estar nas dependências do que os humanos chamam de Céu, pois acreditava firmemente que estivesse morto. O burburinho de vozes, a multidão movendo-se de um lado para outro e a presença de meu amigo, porém, de pronto convenceram-me do engano. Do que ouvi do Céu ao longo de minha convivência com os humanos, o lugar onde me encontro muito longe está de sequer parecer-se com ele. Tampouco estaremos no inferno, porque tanto eu como Mathias nada fizemos para merecer tamanho castigo.

Logo, forçoso é concluir que continuo vivo, pelo que muito agradeço às forças do Universo. Sou muito jovem para partir e encontrar o regaço dos anjos.

Assim que recuperei por completo a consciência, dei-me conta da presença de outro humano junto a Mathias. Um homem baixo e magro, óculos de grau, cabelos desalinhados e olhos escuros. Perto dele, meu amigo era um gigante, ou quase. Imaginei que se haveriam conhecido no interior do pássaro de ferro, porque jamais eu o tinha visto e conheço todos os que frequentam nossa casa em Lisboa (e são bem poucos por certo).

O estrangeiro era simpático e falava português fluentemente. Segundo entendi, aprendeu a língua durante uma longa estadia em Coimbra, a trabalho. Vim a saber, posteriormente, que se chamava Ted, era americano e vivia em Manhattan (também não me perguntem o que é um americano e onde fica Manhattan, não faço ideia).

O que interessa contar é que o americano teve papel fundamental nos fatos que nos aconteceram a seguir. Foi ele o primeiro a quem meu amigo contaria de sua formidável descoberta.

Decorrido o episódio, passei a ter meu amigo em muito mais conta. É realmente um homem extraordinário.

(continua)



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